O rigoroso inverno europeu deste ano não será esquecido por causa da interrupção do fornecimento de gás que está fazendo os países da Europa tremerem de frio.
A Rússia fornece cerca de 30% do gás consumido pelo continente europeu, sendo que 80% desse volume passam por gasodutos que atravessam a Ucrânia. O desentendimento entre os governos russo e ucraniano causaram desabastecimento em pelo menos 16 países da União Européia (UE), afetando as residências, que sofrem sem calefação, e as indústrias, por conta da falta de energia.
A crise só não foi maior porque 20% do volume de gás exportado pela Rússia para a Europa são transportados por dutos da Bielorrúsia e Turquia.
Quem tem razão nessa queda de braço?
Em princípio, a origem da crise parece ser puramente comercial: as companhias estatais de gás da Rússia e da Ucrânia não conseguiram chegar a um acordo sobre o novo preço do gás para 2009. Os russos queriam elevar de 179,50 para 250 dólares o valor por cada mil metros cúbicos de gás exportado para a Ucrânia, enquanto que a estatal ucraniana insiste em não pagar mais de US$ 201 e querem discutir o valor da tarifa para o trânsito do gás por território ucraniano. Então, os russos ameaçam cotar o preço do gás em US$ 450.
A estatal russa de energia reclama ainda uma dívida não paga pela estatal ucraniana e acusa também o país vizinho de roubar o gás enviado para a Europa em benefício próprio.
O curioso na discussão é que não dá para saber quem afinal está impedindo a remessa de gás para a UE, pois as acusações são mútuas e ambos os governos fazem ameaças judiciais.
As nações que não dependem unicamente do gás que passa pela Ucrânia estão conseguindo sobreviver melhor com o racionamento. Mas, o fornecimento foi totalmente suspenso em pelo menos dez países. Alguns, sem outras fontes de suprimento - como Croácia e Eslováquia – decretaram estado de emergência. A Bulgária fechou suas escolas até a situação normalizar. Na Hungria, fábricas pararam a produção.
A UE exige uma solução e ameaça com medidas severas se o suprimento não for restabelecido e tenta convencer os dois países a se submeterem ao monitoramento internacional do fluxo de gás.
Explicações políticas por trás do conflito
Quando a divergência é puramente comercial fica mais fácil de ser resolvida. Mas esse não é o caso e nem é a primeira vez que as exportações de gás para Europa são interrompidas pelo conflito Rússia e Ucrânia. Isso já havia ocorrido em 2006.
A Ucrânia, que abrigou o desastre nuclear soviético em Chernobyl, tem um papel estratégico para a Rússia, pois toda a infraestrutura que liga a Rússia à Europa passa pelo país, inclusive os dutos de transmissão de gás natural. Além disso, o porto de Sebastopol, no sul da Ucrânia, é a única saída de águas profundas que os russos têm para o Mar Negro.
A Ucrânia tem grandes reservas de manganês, carvão e ferro e foi o maior centro industrial da antiga URSS (União Soviética). Tem importantes fronteiras com os países da parte norte do Cáucaso, que desafiam Moscou com suas tendências separatistas.
Desde o desmantelamento da União Soviética, em 1991, os governos da Ucrânia foram aliados políticos da Rússia. Esse quadro, porém mudou em 2004, após constatadas fraudes eleitorais na reeleição do presidente pró-russos.
Em novas eleições no mesmo ano, venceu o adversário Viktor Yushchenko, com postura política pró-ocidente e, portanto, desafeto de Moscou. Ganhou repercussão internacional o seu envenenamento, durante a campanha eleitoral, por uma substância chamada dioxina, que poderia matá-lo. Descoberto a tempo, o veneno teve consequências menos graves: incapacitou-o por um período e deixou marcas em seu rosto. Embora sem provas, a suspeita é de que o crime tenha sido ordenado pelo Kremlin.
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