Dilma Rousseff chegou a Nova York com agenda quase em branco, à exceção do discurso na ONU
A presidente Dilma Rousseff tratará da questão do Oriente Médio e também da situação da economia global quando discursar nesta terça-feira na abertura 67ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, mas a maior probabilidade é que os ouvidos estejam mais atentos ao que disser o orador seguinte, o presidente anfitrião, Barack Obama.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que a presidente, que passou toda a segunda-feira burilando seu discurso em Nova York, está apenas "ultimando um detalhe ou outro" da sua participação.
Dilma deve defender soluções multilaterais para os conflitos, destacar a necessidade de proteção de civis em casos de intervenções militares e também enfatizar a necessidade de reforma nos órgãos decisórios da ONU – em especial o seu Conselho de Segurança.Sem querer adiantar nenhum item da fala, Patriota admitiu apenas, sob pressão dos jornalistas, que, "sem dúvida, o Oriente Médio é um problema importante".
A presidente deve dedicar também parte da sua fala à questão econômica, em tom crítico contra as medidas monetaristas tomadas pelos países desenvolvidos. Essas medidas, já alvo de críticas anteriores, aumentam a oferta de dólares na economia e têm, como efeito colateral, a valorização do real que reduz a competitividade das exportações brasileiras.
Discurso de Obama
Já o Oriente Médio deverá ser o filé-mignon do discurso de Obama. Mas enquanto Dilma deve oferecer uma visão "moderada" para a resolução de conflitos, segundo a tradição diplomática brasileira, espera-se que Obama faça uma declaração expressa de apoio às transições de governo iniciadas com a Primavera Árabe.
Além disso, ele tentará passar uma mensagem de que os EUA estão "mais fortes" no cenário externo hoje que quatro anos atrás – mensagem crucial em ano eleitoral.
Na segunda-feira, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, adiantou outros pontos do discurso do presidente. Segundo ele, Obama condenará o vídeo ofensivo ao profeta Maomé que gerou protestos antiamericanos no mundo islâmico, mas dirá que "os EUA nunca baterão em retirada do mundo".
"Os EUA trarão à justiça aqueles que causarem dano aos americanos e os EUA permanecerão firmes por nossos valores democráticos no exterior", expressou o porta-voz.
Em relação ao polêmico programa nuclear iraniano, Carney lembrou que os EUA "têm consistentemente levantado o tema em torno do profundo fracasso do Irã em cumprir suas obrigações internacionais em relação ao seu programa nuclear".
Em uma entrevista ao programa 60 Minutes, Obama disse que pretende "desfazer qualquer ruído" em relação ao apoio americano a Israel – o que, segundo o porta-voz da Casa Branca, mostra o comprometimento "claro" do presidente dos EUA com a segurança israelense.
Agenda 'em construção'
Pelo terceiro dia consecutivo, a agenda da presidente Dilma Rousseff em Nova York permanece "em construção".
A assessoria da presidente, que chegou à cidade com uma agenda quase em branco à exceção do discurso na Assembleia Geral da ONU, levantou diversas vezes possibilidades de reuniões bilaterais que acabaram sendo canceladas ou nunca se concretizaram.
A participação da presidente em um evento do Council of Foreign Relations, que reúne intelectuais e especialistas em política internacionail e publica a revista Foreign Affairs, foi cancelada.
O evento estava marcado para esta terça-feira, e o cancelamento só foi inicialmente conhecido através da assesoria do CFR, em troca de emails com a BBC Brasil.
Após seu discurso, marcado para as 9h de Nova York (10h de Brasília) desta terça-feira, a expectativa é que Dilma assista à intervenção do colega americano, Barack Obama, e se reúna no fim da manhã com o presidente indonésio. O assunto não foi adiantado.
Confirmações
A agenda da tarde da terça ainda está à espera de confirmações.
Na segunda-feira, a presidente passou todo o dia reunida com ministros, trabalhando seu discurso. Ela também se reuniu por duas horas com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, no hotel St Regis, onde está hospedada.
Aos jornalistas que passaram o dia improvisados em frente ao hotel da presidente, assessores do Planalto disseram que Dilma não tinha planos de ir ao jantar oferecido pelo anfitrião, Barack Obama, a chefes de Estado que participam da Assembleia Geral da ONU. A presidente manteve uma agenda privada.
No domingo, Dilma incluiu na sua agenda um pouco de descontração, com um rápido passeio e almoço no chamado Upper East Side da cidade.
Ela deixou de carro o hotel St Regis e dispensou o motorista pouco depois. Segundo sua assessoria, caminhou por Nova York, foi reconhecida por turistas brasileiros e almoçou fora. A presidente deve voltar a Brasília na 4ª feira.
Dilma vem a Nova York acompanhada da filha, Paula, e dos ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Marco Aurélio Garcia (Secretaria Especial de Assuntos Internacionais), Aloizio Mercadante (Educação), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Aguinaldo Ribeiro (Cidades) e Helena Chagas (Secretaria de Comunicação Social).
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