Fernanda Moura e Daniel Motta
Campina Grande – Quinze pessoas acusadas de 95 crimes de pistolagem na Paraíba foram presas, ontem, na Operação ‘Laços de Sangue’, deflagrada pelas polícias Militar (PM) e Civil (PC) e pelo Poder Judiciário. Os suspeitos detidos pertencem à família Oliveira, que encomenda e executa mortes entre si, numa briga que já dura mais de meio século, envolvendo também as famílias Veras e Suassuna. Em entrevista exclusiva ao Jornal Correio, o secretario de Segurança Pública, Claudio Lima, revelou que mais integrantes das organizações criminosas vivem em São Paulo e formam a ‘Gangue dos Paraíba’, atuando em esquemas fraudulentos, como contrabando de produtos do Paraguai, tráfico de drogas e pistolagem e que eles possuem envolvimento com o contrabandista chinês Law Kin Chong. Eles são acusados de contratar mortes e receber o seguro de vida das vítimas, que chegam a custar até R$ 200 mil. Com o dinheiro, eles financiam o crime em São Paulo.
O esquema criminoso foi denunciado, em julho, pelo Jornal Correio, que, inclusive, antecipou a operação executada ontem. Um dos clãs estaria sendo comandado por uma mulher que, segundo a polícia, ordenou várias mortes. Os homicídios estariam sendo financiados por assaltos e pelo tráfico de drogas. A polícia investiga ainda a encomenda de assassinatos para resgate de apólices de seguros de vida. O dinheiro seria usado também, para financiar homicídios. A operação terá continuidade em São Paulo, onde mais pessoas do mesmo bando deverão ser presas.
130 policiais na operação
A operação foi coordenada pelo coronel José de Almeida Rosas, comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar (BPM), em Patos, e pelo coronel Enéas Cunha Rolim, comandante do 12º BPM de Catolé do Rocha, além do delegado titular da 8ª Delegacia Regional de Polícia Civil (DRPC) de Catolé do Rocha, André Rabelo, e do delegado titular da 5ª DRPC de Patos, Cristiano Jacques, com auxílio do Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de Patos, do comando de Choque da PM e dos delegados Gauber e Simone Quirino. Participaram da operação que teve início às 4h de ontem e deve prosseguir até sexta-feira, 130 policiais, entre homens da PM e da PC que atuaram na Paraíba, e 30 policiais militares do Rio Grande do Norte.
De acordo com o coronel Cunha Rolim, as investigações se intensificaram em 2005 e são em torno de três organizações criminosas, das famílias Oliveira, Veras e Suassuna, que vêm se confrontando, e realizando várias execuções, que resultaram em cerca de 95 homicídios. Conforme o coronel, as três famílias são suspeitas de participação em 64 assassinatos, registrados desde o final dos anos 1990, devido às brigas, além de outros 31, registrados somente este ano, em consequência da atuação destas organizações criminosas, totalizando 95 mortes. Segundo o delegado Cristiano Jacques, uma característica marcante dos três grupos, é o planejamento das execuções. “Todos os crimes são previamente planejados, com tarefas bem definidas, dentro da organização: pessoas que planejam, financiam, recrutam mercenários, levantam os alvos e executam”, explicou .
Os 15 presos
Ao todo 15 pessoas foram detidas, em cumprimento a mandados de prisão temporária, expedidos pelas Comarcas de Catolé do Rocha e Patos. Entre os presos estão: Raimunda Cleide de Mesquita, presa em João Pessoa, Jarbas Jacone de Oliveira, preso em flagrante com várias armas em Brejo dos Santos, Raimunda Cleonice de Mesquita Sousa, Vinícius de Mesquita Sousa, filho de Raimunda Cleonice, João Lustosa de Sousa, esposo de Raimunda, Jocicleide de Mesquita Sousa, irmã de Vinícius, e Joadilly Kledson Figueiredo Serafim da Silva (Jade), todos detidos em Patos. Estão foragidos, Raimunda Ednalva de Mesquita (Nalva), Marcelo Batista Vieira (Marcelo Oliveira) e o pistoleiro Edmilson Nascimento da Silva, conhecido como Careca ou Biu. A polícia recomenda que qualquer informação sobre os foragidos devem ser repassadas pelo número 190 (Disque Denuncia da Polícia Militar).
Segundo o coronel Cunha, Raimunda Cleide de Mesquita seria uma das principais articuladoras de uma facção da família Oliveira, dividida por brigas na década de 1990, e teria ordenado a execução de várias pessoas, principalmente em Patos e Catolé do Rocha. “Nós partimos nessa operação, especificamente, em cima dos membros das duas facções rivais do clã Oliveira, que foi dividida e hoje alguns membros estão em São Paulo, onde são conhecidos como “Os Paraíbas”, disse.
Arsenal apreendido
Mais uma pessoa foi detida em João Pessoa, mais três em Brejo dos Santos, quatro em Antônio Dias-RN e uma pessoa foi presa em Caraúbas-RN. Em Brejo dos Santos, também foram apreendidos vários coletes balísticos, rádios de comunicação, lunetas de fuzil, espingardas, rifles e pistolas. Em Caraúbas-RN, foram apreendidos revólveres, duas espingardas, bala clavas (capuz que protege o rosto) e várias munições. Em Antônio Dias-RN, foram encontrados cinco revolveres, três pistolas, várias munições.
Cunha Rolim lembrou que em 2007, 26 pessoas foram presas, em uma operação da Polícia Federal, que foi batizada de “Rede Marginal”, mas muitos dos presos já ganharam a liberdade. “Algumas pessoas já ganharam a liberdade. Alguns porque os crimes foram considerados como tentativas, crimes de menor potencial. Mas a verdade é que, do final da década de 90 até hoje, 64 eventos foram registrados, oficialmente, mas, extra-oficialmente, os crimes devem passar dos 100”, frisou.
Mais três seriam executados esta semana
O desencadeamento da operação policial teve que ser antecipado, porque, de acordo com a polícia, três execuções estavam programadas para ontem e hoje, e aconteceriam no município de Catolé do Rocha, a mando do clã Oliveira. “Aqui em Patos, eles mataram seis inimigos Suassuna este ano e nós tivemos que antecipar a operação, porque iriam cometer mais três homicídios, de hoje para manhã. Eles contratam os elementos através da arrecadação de dinheiro por meio de assalto e tráfico de entorpecentes”, disse o coronel José Almeida, que coordenou a operação.
Brigas duram mais de meio século
As brigas entre as famílias no Sertão Paraibano começou em Catolé do Rocha e região por volta dos anos 50, quando duas das famílias mais importantes da cidade duelaram pelo poderio político da região, os Maias e os Suassunas. As famílias deram o pontapé inicial para os conflitos entre famílias e o clima acirrado foi reacendido a partir dos anos 90, por rixas, motivadas por vinganças, entre os Oliveiras, Veras e Suassunas. “No entanto, na época dos Maias e Suassunas, os conflitos não eram tão graves como os de hoje. As duas famílias se enfrentavam, mas sem tanta violência. Porém, o clima acirrado serviu de precedente para o conflito entre Oliveira e Veras, que já se enfrentam há mais de 20 anos”, lembrou o coronel Cunha Rolim e que já resultou em tanta morte.
Cunha Rolim revelou que após vários confrontos entres elas, com saldo de mortos sem precedentes na região, alguns integrantes dos Oliveiras, acabaram se dividindo em duas facções. “Antes os Oliveiras eram uma só família, que brigava com os Veras, Suassunas e depois de um tempo, se dividiram e uma parte foi embora para São Paulo e a outra ficou por aqui. De acordo com o coronel, os Oliveiras que foram para São Paulo, são acusados extorquir pessoas na feira da 25 de Março. “Eles eram acusados de oferecer proteção para comerciantes ilegais e em troca disso, recebiam muito dinheiro e também são acusados de assassinar pessoas lá por ponto na feira”, relembrou.
‘Indústria da Morte’
Conforme o delegado de Catolé do Rocha, André Rabelo, dentre as principais denúncias dos crimes cometidos, destaca-se um esquema fraudulento em que pessoas de uma mesma família são acusadas de encomendar as mortes dos parentes. O esquema funcionaria da seguinte forma: os Oliveiras que vivem na Capital paulista contratam agenciadores em Catolé do Rocha para comandar as execuções.
O primeiro passo é o levantamento da pessoa a se tornar o alvo da facção, com um acompanhamento diário. Após obter todas as informações sobre a vítima, eles repassam as informações para o mandante, que por sua vez, dá a ordem do dia e o local em que o homicídio deve acontecer. O valor da execução varia entre R$ 5 mil e R$ 50 mil e os criminosos faturam em média, R$ 200 mil, por apólice. O dinheiro seria utilizado, entre outras ações criminosas, para financiar outros homicídios.
Segundo o delegado, antes de planejar a morte, os mandantes fazem o seguro de vida das vítimas, e após o assassinato, solicitam junto à seguradora o valor do seguro. Ainda conforme o delegado André Rabelo, em quase todos os casos registrados em Catolé, a principal linha de investigação versa sobre crime encomendado por mandantes de São Paulo e também da região de Catolé do Rocha, além de municípios do Rio Grande do Norte, localizados próximo a divisa com a Paraíba.
Operação será continuada em SP
De acordo com o secretário de Segurança Publica, Claudio Lima, a operação ‘Laços de Sangue’ também estava programada para acontecer em ação conjunta com a polícia de São Paulo, onde vivem mais envolvidos do esquema de extermínio, sobretudo da família Oliveiras. Ele explicou que além de encomendar mortes no Sudeste e também na Paraíba, os Oliveiras, que vivem em São Paulo formaram uma ‘milícia’ chamada de ‘Gangue dos Paraíba’, e atuam na feira da 25 de março, com contrabando de produtos do Paraguai e de outros países e estariam apoiados a Law Kin Chong, apontado como o maior contrabandista do país. “Uma parte deste bando integrantes deste mesmo bando, que vive em São Paulo montou essa organização criminosa e comandam vários crimes, não apenas encomenda de mortes. Eles traficam e contrabandeiam produtos, por exemplo, cigarros, que também são enviados à Paraíba, além de drogas”, explicou.
Além disso, o secretario destacou que os acusados criaram uma espécie de ‘Indústria da Morte’, através de um esquema em que fazem o seguro de vida das vitimas e depois contratam pistoleiros para executá-las. “São seguro de vida muito caros. Temos informações de que um deles custou R$200 mil, e ocorreu em 17 de janeiro deste ano. Eles mandam matar para retirar o valor dos seguros para conseguir capital para custear o crime deles em São Paulo”, revelou.
A operação para prender os integrantes dos grupos de extermínio de paraibanos que vive em São Paulo, será articulada novamente com a polícia paulista e mais de 10 envolvidos serão presos nos próximos dias. “Ainda não podemos adiantar para não atrapalhar as investigações. A operação de lá ia acontecer no dia que fosse a daqui, mas tivemos que antecipar. Agora vamos organizar o trabalho com a polícia de São Paulo para concluir e realizar as prisões que estavam previstas para acontecer lá”, afirmou o secretario.
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